Sexta-feira, 05 de janeiro de 2001. Passaram-se 20 anos, mas a lembrança de um moleque franzino que dava os seus primeiros passos no amor pelo basquete ainda é muito viva na minha memória. Não se tratava de uma noite especial para uma certa franquia preta e prata que teria a melhor campanha da NBA na temporada regular. Não era nenhum jogo de Playoffs, não era um clássico contra um rival da mesma conferência e nem sequer da mesma divisão. Para aquele lendário time liderado por David Robinson e Tim Duncan, parecia ser somente mais uma partida para garantir mais uma vitória e zarpar cada vez mais forte rumo à pós-temporada. Para mim, era a noite que mudaria a minha vida.

Alamodome: casa do San Antonio Spurs entre 1993 e 2002. / Origem da imagem desconhecida

O Alamodome estava lotado, como sempre. Do outro lado da quadra estava um Detroit Pistons recheado de bons valores: Ben Wallace (4x All-Star e 4x DPOY), Jerry Stackhouse (2x All-Star), Chucky Atkins e Joe Smith. Na minha casa, se instaurava o maior clássico do basquetebol familiar. E o meu sofá se tornou a extensão do antigo ginásio dos Spurs.

O jogo começou quente! Os Pistons pareciam jogar sua vida contra o líder da Conferência Oeste. Era uma alternância no placar eletrizante. Eu, perdido, não conseguia raciocinar tamanha a velocidade daquele jogo. Do outro lado do sofá, meu rival (e meu primo, alguns anos mais velho), vibrava com cada ponto que o endiabrado Stackhouse fazia – ele terminaria aquela partida com 34 pontos.

Toda vez que ele vibrava, eu me remoía. Era como ver o meu carrasco nos jogos de basquete da família triunfar mais uma vez. Não podia perder mais uma vez e o coach Pop parecia concordar comigo! Surgiria ali o primeiro herói dessa saga: Derek Anderson, de curta passagem pela franquia, mas que naquela noite jogava de forma tão intensa quanto o Pantera Negra. Duncan e Robinson, como Batman e Robin – me perdoem o trocadilho infame! -, faziam mais um jogo épico e combinavam para 53 pontos e 35 rebotes. Aquele time ainda tinha Sean Elliott, Steve Kerr e Antonio Daniels. Os heróis de capa preta mudaram ali a minha vida. Sem perceber, eu era tomado por uma paixão sem precedentes. A vitória do Spurs parecia uma doce vingança de um menino que, mais baixo e fraco, parecia fadado a perder sempre. Era uma redenção! Fim de jogo: Spurs 108 x 101 Pistons.

Ainda era incapaz de entender o quanto o amor por essa franquia ia crescer. Talvez, se soubesse, teria me assustado com a dimensão que isso tomaria em minha vida. De lá para cá, passados 20 anos, olho pra trás e vejo que essa camisa me deu muitas alegrias, vitórias muitas vezes inesperadas contra times tecnicamente superiores e derrotas muito dolorosas – Ray Allen, como Freddy Krueger, ainda persegue o meu sono. Não tenho dúvida, contudo, que experimentei um dos amores mais viscerais já sentidos.

Tenho certeza que o amigo leitor tem histórias com o Spurs tão interessantes ou mesmo melhores do que essa. São elas que nos unem e nos motivam a estar sempre ao lado da franquia de San Antonio, a mais organizada da NBA. Aprendemos a apoiar os Spurs nas pequenas vitórias e nas grandes derrotas, nos famigerados títulos e nas partidas desastrosas. E isso nos enche de orgulho! São esses momentos que nos fazem bater no peito e dizer que somos San Antonio Spurs.

Go Spurs Go!


Texto originalmente escrito em dezembro de 2021. Esta noite (13/01/2023), o San Antonio Spurs retorna ao Alamadome para uma partida especial diante do Golden State Warriors pela temporada regular.

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