Quando o grande nome de seu time é um talentoso novato de 19 anos, a sensatez manda se preparar para altos e baixos e para uma temporada de aprendizados.

Por outro lado, quando o grande nome de seu time é um novato de 19 anos que faz o que Victor Wembanyama faz, ninguém pode julgá-lo por estar empolgado.

O San Antonio Spurs entra na temporada 2023/24 para vencer, mas encontrará muitos obstáculos pela frente. O que não quer dizer, contudo, que não haja motivo para empolgação.

Objetivo vs Expectativa para o San Antonio Spurs

Greg Popovich já deixou claro nas entrevistas do Media Day que a vitória esse ano é tão importante quanto o aprendizado no ano passado.

Não é para menos. Agora que já tem o talento geracional, nada mais indicado ao San Antonio Spurs que implementar uma cultura competitiva e construir um ambiente vencedor.

A classificação para os Playoffs é certamente um objetivo da equipe, mas daqueles que se sabe ser muito difícil conquistar. Há muitos times bons e mais experientes no Oeste, cuja disputa vai muito além das seis vagas de classificação direta para a pós-temporada.

Estar na briga para uma vaga no Play-In Tournament, no entanto, pode ser possível. Afinal, basta estar ao alcance do 10° colocado nos últimos meses da temporada para se manter nesse objetivo.

Ainda assim, o mais esperado é que, mesmo tentando vencer, San Antonio acabe entre as últimas colocações da Conferência Oeste. Não por ser uma equipe tão ruim quanto a da temporada passada, mas principalmente porque a concorrência está muito forte.

Todos os quinze times do Oeste possuem potencial de competitividade. Dentre eles, pelo menos doze sempre são melhor avaliados pelas casas de apostas que o Spurs.

Aqui o exemplo de over/under da Conferência Oeste pela FanDuel, segundo The Line, em que somente de Portland espera-se menos que de San Antonio:

  1. Denver Nuggets – 53.5 Vitórias
  2. Phoenix Suns – 51.5
  3. Golden State Warriors – 47.5
  4. Los Angeles Lakers – 46.5
  5. Memphis Grizzlies – 46.5
  6. Los Angeles Clippers – 45.5
  7. Minnesota Timberwolves – 44.5
  8. Oklahoma City Thunder – 44.5
  9. Sacramento Kings – 44.5
  10. New Orleans Pelicans – 44.5
  11. Dallas Mavericks – 43.5
  12. Utah Jazz – 35.5
  13. Houston Rockets – 31.5
  14. San Antonio Spurs – 28.5
  15. Portland Trail Blazers – 27.5

De fato, há razão para esperar mais de todas as treze franquias acima do Spurs, já que possuem elencos mais experientes e mais talentosos.

Como já dito, o Oeste está muito forte. Fica difícil imaginar o Spurs superando muitas dessas equipes para figurar entre os dez primeiros, mesmo que melhore suas atuações e resultados em comparação à última temporada.

Mesmo assim, há alguns motivos para esperança.

O primeiro diz respeito às próprias circunstâncias da NBA. Há sempre, infelizmente, possibilidade de lesão que afete diretamente qualquer time, a exemplo do que aconteceu com o New Orleans Pelicans e Zion Williamson na última temporada. Além disso, algumas franquias decidem reconstruir ou apenas percebem que não disputarão muita coisa e partem para o tanking na segunda metade da temporada, como fez o Utah Jazz na última e pode fazer novamente.

O segundo motivo é o potencial de melhora defensiva. Afinal, o Spurs terminou a Temporada 2022/23 com a pior defesa de toda a NBA, com um Defensive Rating historicamente ruim: 119.6 pontos por 100 posses de bola. Esse ano, com o objetivo de vitórias e uma grande novidade no elenco, a tendência é melhorar consideravelmente.

Novidade que é justamente o terceiro motivo: Victor Wembanyama.

O fator Victor Wembanyama

Victor Wembanyama é apenas um novato de 19 anos, e como todo jovem jogador que está chegando à NBA, ele encontrará na América do Norte as maiores dificuldades esportivas que já enfrentou, pois terá pela frente toda noite os melhores jogadores de basquete do mundo.

Victor também é, por outro lado, o melhor jogador de 19 anos do mundo atualmente, e um dos melhores com esta idade que vimos nesse século. Sua carreira antes do Draft, em larga amostragem, e a Pré-temporada da NBA numa amostragem muito menor, mas também impactante, são provas disso.

Em um elenco tão jovem e fraco quanto o do San Antonio Spurs, Wembanyama já chega com muito a adicionar e tende a mudar consideravelmente o potencial da equipe.

Na defesa, o potencial de evolução é evidente. Com altura e envergadura impressionantes, uma mobilidade inigualável para alguém desse tamanho e um entendimento do jogo à frente de sua idade, o francês já chega à NBA como um dos defensores mais temidos, e tem tudo para impactar na eficiência de toda a defesa preta e prata. Não só com os belíssimos tocos em bolas de três ou próximos ao aro, mas principalmente com alteração de arremessos e bandejas, o que também fará com que muitos jogadores adversários temam atacar a defesa texana com agressividade.

No ataque, apesar de um caminho mais longo, também há claro potencial de melhora do time com sua presença. Wembanyama entrega ao Spurs algo que a franquia não tinha – e que poucas equipes tem. Isto é, alguém que pode conseguir qualquer tipo de arremesso.

Com aproveitamentos que devem ser inconsistentes no primeiro ano, Wemby é capaz de atacar o aro com intensidade, bem como de mudar a bandeja com habilidade diante de um defensor, é capaz arremessar de meia distância após o passe do companheiro ou após o drible, em criação individual, é capaz de pontuar no poste baixo ou no poste alto, de costas pra cesta, também é capaz de completar pontes aéreas com facilidade e de finalizar contra-ataques próximo à cesta, além de, por fim, ser capaz de arremessar de longa distância.

Um arsenal tão vasto permite ao Spurs não só um leque muito maior de possibilidades ofensivas, como também concentra os sistemas defensivos adversários e tende a abrir espaço para que os demais jogadores cresçam. Devin Vassell com o espaço criado e Zach Collins diante de defensores mais baixos, por exemplo, são dois jogadores que devem se beneficiar individualmente da gravidade do francês, para além de todas as possibilidades de construção de jogadas que agora possuem a comissão técnica.

Até onde o Spurs pode chegar?

Pessoalmente, acredito que o San Antonio Spurs pode brigar por vaga no Play-In Tournament e, uma vez lá, até chances de Playoffs terá – ainda que mínima.

É certo que o querer pode estar interferindo em minha análise do que esse time é capaz. Porém, também não se pode negar que as circunstâncias permitem ao menos que este desejo não seja mirabolante.

Além disso, brigar por vaga no Play-In não significa nada demais. É bem possível que o 12° colocado da conferência esteja nessa disputa até o final da temporada.

O Spurs, graças a Greg Popovich e suas comissões, tende historicamente a superar as expectativas das estatísticas e dos analistas diante do nível de seu elenco. Seja por um aproveitamento acima do esperado de jogadores coadjuvantes no sistema ofensivo, ou pela formação constante de defesas coletivas sólidas.

Acontece que no ano passado, pela primeira vez em muito tempo, o Spurs quis perder o máximo de partidas e seus péssimos números são também resultados dessa decisão. Por isso, é tão difícil levar em consideração a performance da última temporada, especialmente defensiva.

Agora, com interesse em vencer e com Victor Wembanyama no elenco, há motivos para confiar na comissão técnica para estabelecer uma defesa muito mais sólida. Consequentemente, um time consideravelmente mais competitivo.

Superar 28.5 vitórias, portanto, parece viável. E se não fosse um Oeste tão forte, dava até para sonhar com muito mais.

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